O que as testemunhas dizem sobre o massacre na cidade de Gaza?
Mais de 100 pessoas foram mortas no bairro Rimal após forças israelenses abrirem fogo contra uma multidão esfomeada que buscava coletar farinha de caminhões
Na edição do Filtro do Oriente Médio da semana passada, enfatizei como a ação israelense havia devastado a região norte da Faixa de Gaza, onde está a cidade de Gaza, e provocado o colapso da ordem nesta área.
Um episódio ocorrido na madrugada de quinta-feira 29 ilustrou este cenário. Pelo menos 104 pessoas morreram no bairro de Rimal, na região costeira da cidade de Gaza, durante a passagem de um comboio de 30 caminhões com farinha pela rotatória Trabulsi.
O governo israelense admitiu que seus soldados atiraram contra a multidão, mas afirma que “matou menos de dez pessoas” e que as outras mortes foram provocadas por pisoteamento e atropelamentos.
Lideranças palestinas, porém, acusam as forças de Israel de serem responsáveis pelo massacre. Os testemunhos também apontam a culpa israelense.
Segundo a Al-Jazeera, seu repórter Ismail al-Ghoul, que estava no local, disse que, após abrir fogo, tanques israelenses avançaram contra a multidão e atropelaram corpos e pessoas feridas. Na reportagem abaixo, Al-Ghoul coletou diversos depoimentos que corroboram o seu relato.
Depoimento semelhante deu uma testemunha ao jornal egípcio Mada Masr. “Assim que os caminhões chegaram, as pessoas começaram a se deslocar em direção a eles para receber algum auxílio. No entanto, de repente e sem aviso, o exército de ocupação – estacionado em diversas áreas ao redor de onde estávamos localizados – começou a atirar contra membros famintos do público”, afirmou um homem identificado como Motassem.
À Associated Press, uma outra testemunha, Kamel Abu Nahel, também atribuiu o episódio aos tiros disparados pelas forças de Israel. Segundo ele, o ataque forçou a multidão a dispersar, mas ela voltou a ir em direção aos caminhões quando os tiros pararam. Segundo Abu Nahel, nesse momento mais tiros foram disparados contra a população.
O Wall Street Journal afirmou que três testemunhas disseram que soldados e tanques israelenses atiraram contra a multidão. Saeb Abu Sultan, de 36 anos e pai de três filhos, disse que foi a o ponto de coleta porque sua família não havia comido nada nos dois dias anteriores. “Para nossa surpresa, veículos militares israelenses estavam vindo na direção da rotatória Trabulsi e abriram fogo em direção às pessoas e nós começamos a correr”, disse. “Os caminhões não pararam, eu juro que as pessoas estavam embaixo dos caminhões.”
As imagens abaixo, feitas por um drone e divulgadas pelo porta-voz do Exército de Israel Avichay Adraee, foram à público com o objetivo de inocentar as forças israelenses, mas são incompletas e sem áudio. Elas revelam, porém, o desespero das pessoas que tentam alcançar a carga dos caminhões, uma situação criada integralmente pelas forças israelenses.